Ela era linda e displicente e eu o mais novo funcionário,
enviado toda quarta-feira, por seu marido, para ajudá-la nas compras. Ela tinha
quase trinta anos e eu não chegara aos vinte. Ela era a manifestação da beleza
enquanto eu era o colecionador de espinhas, magricela e ficava ridículo naquele
uniforme todo largo que me deram na empresa.
Ela era a esposa do patrão e eu
seu mais reles empregado. Apesar de tudo isso o que mais me incomodava era o
risco que meu emprego corria. Eu sofria frequentes e incontroladas ereções, meu
desejo era tão intenso que naqueles dias eu fugia ao banheiro pelo menos três
vezes durante meu “expediente”.
Vou explicar melhor. Ela adorava vestidos estampados primaveris,
daqueles cintados na cintura, com decote em “V”, preso aos ombros tão levemente
que se as alças escorregassem os seios sempre livres surgiriam aos meus olhos
como em meus devaneios.
A parte da saia era rodada, com muito pano, que serviam
como as molduras de belos quadros. Destacavam as grossas e perfeitas coxas que
encimavam pernas deslumbrantes sequiosas por beijos, por meus beijos.
Seus
rijos braços ficavam nus ajudando-a a apontar com aquelas mãos macias e sedosas
os produtos a colocar no carrinho e o local onde guarda-los quando chegávamos à
casa.
Mas quando eu ia ao banheiro aquela saia esvoaçante me revelava ela
desnuda com pélvis convidativa, os braços livrando-se das alças caídas
facilitando a oferta dos seios e as mãos macias substituíam as minhas que eu
deixara adormecer para pensar que eram as dela.
A primeira masturbação do dia era lenta para que eu saboreasse todos
os sonhos da semana, mas a última era lentíssima pelo desgaste das ejaculações
anteriores, porém o sacrifício para alcançar o prazer era compensado pelo
enorme relaxamento que me proporcionava.
Em casa só quando todos já estivessem
dormindo é que eu me despediria de minha musa tomando um banho imaginário com
ela ao meu lado.
Não sei se pelo excesso de fantasias ou se pela convivência que
se tornava mais habitual a cada nova semana, eu estava apaixonado e estava
ficando até ciumento. Detestava os olhares masculinos que sobre ela decaiam e
padecia nos demais dias da semana ao lembrar que, naqueles dias, ela pertencia
exclusivamente a seu marido.
Uma coisa eu percebia e me incomodava. Ela estava cada vez mais
à vontade ao meu lado e, por isso mais displicente. Brincava comigo e ria de
mim com facilidade e já não se incomodava se seu vestido me permitia ver
amplamente suas pernas enquanto dirigia ou se seu decote me mostrava cada dia
mais os seus seios.
Hoje, todavia, a tortura que ela me impôs foi dolorosa. Ela ria
de mim enquanto me interrogava me deixando sem respostas e sem ligar para meus
embaraços:
- Estou lisonjeada por perceber que mesmo não sendo mais
novidade você ainda aprecia meu corpo?
Eu estava em plena ereção. Será que ela percebera? Mesmo não
tendo percebido a ereção a vermelhidão que ela provocou em meu rosto seria
claramente perceptível e essa ela notara. Enquanto eu gaguejava sem conseguir
responder ela corta em completa:
- Você ficou vermelhinho. Isso tudo é acanhamento?
Não sei como nem porque mas a resposta escapou:
- É que a senhora é linda.
- Só por isso? – Ela rebateu sem que eu tivesse tempo de
refletir.
- Eu, eu, eu... Eu acho que estou apaixonado pela senhora. – Eu tinha
que confessar.
Estava tremendo por dentro. Coração disparara. Faltava fôlego e
saliva. Pensei que minha ereção diminuiria mas meu pênis pulsava sob a roupa
larga e meu rosto estava ainda mais congestionado com o enrubescimento. Por sorte
ela mudou de assunto.
- A Mara é muito bonita?
- Aquela rabugenta secretária do seu marido? – Mara era a
prepotência em pessoa, nem dava para ver qualquer beleza nela, embora olhando
para ela mentalmente percebi que ela era mais gostosinha e exibicionista do que
bela.
- Acho que ela vive se insinuando para o Roberto.
- Se mostra para todo mundo, quer parecer gostosona. Mas adora é
mandar. Só trata bem mesmo ao patrão.
- Como ela trata ele?
Não percebi onde ela queria chegar, eu estava cheio de desejo e
ela sentara na mesa, estava com as penas cruzadas e curvada em direção a minha
cadeira. Aquela pose, digna do mais lindo pôster, me deixava vislumbrar a parte
inferior das curvas dos seios e grande parte do bojo do seio direito e por
muito pouco não me revelavam seus mamilos. Também a coxa direita estava quase
totalmente exposta e meu cérebro não queria pensar, me exigia masturbação.
- Cerca ele de mimos. Se ajeita toda quando ele a chama em sua
sala. Fica rebolativa enquanto leva para ele café e água, e, as vezes, até
desabotoa mais a blusa para parecer mais sensual. É uma vaca, nunca pede nada,
só manda e desmanda e nunca valoriza ninguém.
Devo ter dado à Michele a informação que ela queria pois o foco novamente voltou-se para mim.
- E essa sua constante ereção, é por minha causa?
Meu Deus! Ela percebera? Constante? Sempre percebera? O chão se
abrira sob meus pés. Onde me esconder? Ousei. Não consegui responder aquilo mas
como homem encarei meu rival olhando-a bem nos olhos.
Desarmei, ela sorria para mim encantada. Sorria para um espinhento, seria meu olhar que a fazia sorrir e manter o olhar contra o meu?
- Toda vez que você demora no banheiro é se masturbando? E você
se masturba pensando em mim?
Eu estava fodido. Tinha perdido meu emprego. A patroa notara
tudo que eu pensara ter disfarçado tão bem. Apesar da fala carinhosa eu sabia
que ela devia estar revoltada por dentro e que quando aquela conversa acabasse
ela me mandaria embora de sua casa e ligaria para o marido para me demitir. Por
isso, sem mais nada a perder, enfrentei; gaguejando.
- Já disse que me apaixonei pela senhora. Peço desculpas se isso
for adiantar. Mas não consigo controlar nem meus desejos nem meu coração. - (Gaguejando
essa frase foi quase eterna).
Eu estava olhando nos olhos dela, mas ela abaixou-se um pouco
mais se aproximando de mim que estava sentado junto a mesa onde ela se alojara.
Esse gesto deixou o seio direito totalmente exposto: bojo, curvas, mamilo e
bico dançando para meus olhos que agora se perderam naquele decote enquanto o
coração, antes acelerado, agora descompassa e só volto a olhar os olhos dela
quando sinto sua mão em meu queixo como que me puxando para perto dela.
Deixo-me erguer e conduzir (flutuar) por aqueles dedos macios que
queimam meu rosto. O rosto de Michele recebeu de Deus o mesmo capricho que ele
usou nas orquídeas. Seus olhos verdes brilham e encantam emoldurados por suas
sobrancelhas claras como seus cabelos ondulados que alcançam os ombros. A
profundidade de seu olhar não permite aos desatentos perceber a perfeição de
seu nariz mas destacam as maças do rosto naturalmente rosadas em meio àquela
pele aveludada e os carnudos lábios de leves relevos e de um “rosa avermelhado
devastador” que eu, em meus devaneios, classifico de gulosos. Seus lábios
suplicam por beijos.
Estou cada vez mais perto daquele olhar que me consome quando
percebo que ela se aproxima, entreabre a boca e sinto-me no paraíso quando
aqueles lábios dadivosos acariciam os meus abençoando-os com seu toque. Fico
inerte por eterno momento até que sinto ela puxar, com a outra mão e sem largar
meu queixo, o meu corpo de encontro ao seu.
É com uma explosão de adrenalina e, sem que eu perceba como, estou
beijando a boca de Michele como se fosse uma poça d’água encontrada num
deserto. Estou beijando, sugando, saboreando, comendo, degustando e sugando a
alma daquela mulher naquele sonhado beijo e a realidade supera todas as minhas
fantasias.
Ainda sem atentar para a realidade já trouxe seu corpo para
terra firme colando-o ao meu e minhas mãos desesperadas estão fazendo as alças
daquele seu vestido primaveril correr pelos braços que resistem por abraçados
ao meu pescoço. Sinto meu pênis pressionado por aquela maciez que nele se cola
e arrasto ele contra aquele corpo desejado de todo o sempre.
Ainda sem entender nem planejar nada, nós dois afastamos nossos
corpos e sem parar de nos beijar um só instante estamos brigando contra os
panos que nos cobrem. O tempo ficou louco. Sinto a velocidade do tempo
misturado à lentidão com que cada peça de minha roupa cai ao chão e a
eternidade que leva para aquele vestido escorregar pela escultural mulher que
vou desnudando e me encantando com cada pedaço de pele revelado.
Percebo, então, que estamos nus, atravessando a sala em direção ao
quarto, quando ela resolve me presentear. Ela interrompe nosso caminho
abaixando-se a ajoelhando-se próximo a porta do quarto. Toma minha inédita
ereção (nunca me senti tão enorme) nas mãos, com o olhar encantado e como sob hipnose vai aproximando o
rosto enquanto apalpa, acaricia e prepara meu membro para seu primeiro beijo.
Nessa hora a insegurança tenta me assaltar gritando dentro de
minha cabeça que sou virgem e não vou saber dar conta daquela tarefa, mas bem
nessa hora a divina boca me toma e a tranquilidade que a experiência dela me
transmite me reporta exclusivamente ao inusitado prazer que me domina.
Estou trêmulo e sinto leves convulsões quando choques de prazer
são provocados por uma língua endiabrada que acaricia o membro sugado. Estamos
acorrentados a nossos olhares enquanto minhas mãos agradecem acariciando os
cabelos de Michele todo prazer que recebo.
Quem nunca comeu melado...
Explodo em uma inesperada ejaculação que ela recebe abrindo um
semblante de alegria e, sem sustos, me sorve como quem experimenta um maná dos
deuses.
Ela, parecendo realizada, não permite que meu membro arrefeça. Concentra-se
na tarefa de me proporcionar prazer e ao erguer-se me toma através dele e
puxando-o me leva para sua cama onde se joga oferecendo-se sem reservas.
Mesmo virgem sei que é chegada a hora de agradecer, retribuir
cada instante de prazer. Deito ao lado dela. Retribuo seus beijos sendo que
agora sou eu quem toma seus lábios e deixo meus lábios passear por sua face,
seu pescoço, orelhas e a faço rir ao introduzir minha língua em seu ouvido.
Começamos a conversar. Eu que nunca imaginei que num momento
desse alguém falasse. Pensava que era uma cerimônia silenciosa – como eu sou
idiota! Adorei conversar e brincar com ela.
O ato de conversar foi bom e revelador para ambos. De alguma
forma estávamos ambos em uma primeira vez. Ela era minha primeira mulher e
apesar de eu ser seu segundo homem, era a primeira vez que ela traia o marido,
único homem que conhecera. Foram essas intimidades que entre risos confessamos
que sedimentou os caminhos que eu precisava desbravar.
Ela seguia me orientando
e eu beijei seu corpo pulando do umbigo diretamente para os pés. Dali fui
subido, beijo a beijo, entre carícias até fazê-la perder o fôlego, a voz, o
rumo.
Sou virgem mas não ignorante. Li, vi fotos e conhecia bem, pelo
menos teoricamente, como se deve tratar um grêlo. E quando coloquei na prática
anos de teoria e fantasias tive sucesso. Aquela mulher até então sorridente e atrevida
perdeu-se dentro de si mesma. Entregou-se em minhas mãos e lábios e boca e
língua. Entregou-se ao prazer que minhas carícias a proporcionavam e: Vitória!
Pela primeira vez na vida arranquei e vi uma mulher sofrendo um orgasmo . Orgasmo provocado por mim.
Entre gemidos e ininteligíveis resmungos ouvi ela confessar que
era para eu que ela gozava. Isso aumentou minha dedicação e, quando ela mais uma
vez se entregava a um orgasmo, um desajeitado Ulisses a penetrava
profundamente sendo contemplado com um abraço pleno de braços e pernas até que,
entre tremores e arrebatamento estampado em seu olhar perdido, percebi suas
pernas enrijecendo-se e esticando-se para o alto.
Michele estava perdida em um
fabuloso orgasmo e eu me vi, sem qualquer experiência prévia, acelerando minhas
profundas investidas contra aquele corpo de uma mulher que sorrindo, babava e deixava
escapar lágrimas dos cantos externos dos olhos.
A ejaculação chegou mais uma vez sem prévios avisos, instantânea, forte, intensa e abundante facilitando minhas estocadas e, inebriada, Michele não
parava de estremecer em um orgasmo insistente e interminável que agora
arrancava de mim seu abraço fazendo seus braços repousarem junto com suas
pernas e fazendo com que ela me pedisse para ficar quietinho dentro dela.
Obedeci e me vi encolhendo enquanto ela me enchia de pequenos
beijos o rosto. Fui expulso de sua vagina por suas contrações e me deitei ao
seu lado. Ficamos ali por longos minutos curtindo o desejo saciado. Até que ela
me chamou de volta à vida.
Vamos tomar um banho que ainda temos muito a fazer antes de
nossa despedida de hoje. Já estou ansiosa pelo resto do dia e pelas próximas quartas-feiras.
Espero estar certo na interpretação daquelas palavras. Acho que conquistei uma
amante! Minha primeira mulher!
....................... Borges C. (Toca de Lobo)
O Contador de Contos
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